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UNIFESP - O Cortiço

Enviado: 16 Out 2017, 13:00
por ivanginato23
(UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):

O cortiço

Fechou-seum entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadaspelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos aoombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora decamas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba degritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadaspela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos;ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. Ecomeçou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; masviam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
ABruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, decabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta,desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens,dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se,ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosano meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar emsegredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá parafora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, queabateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (AluísioAzevedo. O cortiço)

Em O cortiço, o caráter naturalista da obrafaz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente eonipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dosfatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muitopróxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto eexplícito em:

a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada.
Resposta

E
Por que a alternativa D está errada? O fato do narrador saber, até mesmo, o sentimento do personagem não o torna narrador onisciente e onipresente?

Re: UNIFESP - O Cortiço

Enviado: 16 Out 2017, 13:10
por undefinied3
Mas não é isso que a questão quer. Ela quer um trecho que mostre maior proximodade do narrador com o fato narrado, o que, na maioria das vezes, desaparece na narração onisciente já que o narrador acaba narrando tudo de maneira muito distante por não participar dos fatos.
A letra D não apresenta a proximidade pedida, trata-se apenas de um comentário com certa adjetivação da cena. A letra E é sem dúvida a resposta em virtude do "cá para fora", que seria "aqui para fora". Esse "aqui" aproxima bastante o narrador da narrativa pois ele estaria assumindo uma posição no meio da história, sendo, portanto, quase parte dela.

Re: UNIFESP - O Cortiço

Enviado: 16 Out 2017, 13:13
por ivanginato23
Verdade! Vacilo meu. Agradeço!