História do Brasil(ESPM-2018)Republica Nova/Atualidade Tópico resolvido

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ASPIRADEDEU
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(ESPM-2018)Republica Nova/Atualidade

Mensagem não lida por ASPIRADEDEU »

A conturbada conjuntura política nacional foi caracterizada nesse segundo semestre:
a)
Pela aceitação do Congresso brasileiro do pedido de denúncia, sugerido pelo Ministério Público contra o presidente Michel Temer.
b)
Por uma boa relação e discurso afinado entre o STF e o Ministério Público, representados nas figuras de Gilmar Mendes e Rodrigo Janot, respectivamente.
c)
Pela condenação na justiça e perda de mandato de um dos políticos mais influentes do cenário nacional, o ex-senador Aécio Neves, candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais.
d)
Por sucessivas vitórias do Palácio do Planalto para deter a maioria no Congresso.
e)
Pela constante troca do Ministro da Fazenda.
Resposta

GAB:D

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mcarvalho
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Re: (ESPM-2018)Republica Nova/Atualidade

Mensagem não lida por mcarvalho »

Boa tarde.

A questão é do segundo semestre de 2017. O contexto é o mandato atribulado do presidente Temer, que assume após o impeachment da Dilma, com o discurso de reaver a economia após a forte crise. Há intenso debate entre os economistas sobre se ele foi bem sucedido ou não. A base eleitoral de Temer, que não tem apelo popular nenhum, é fraquíssima, e ele chega, em alguns momentos, a menos de 5% da aprovação popular. O ano de 2017 é particularmente difícil. Em maio, um mês em que todos os entusiastas do mercado financeiro bem se lembram, ocorre o Joelsey Day, que mudaria pra sempre o governo. É de lá que vem aquela famosa frase do Temer, "tem que manter isso daí, viu?". Áudios divulgados pela justiça entre Joelsey, da JBS, condenado pela Odebrecht, e Temer.

É sempre interessante tentar entender o que o sustenta depois disso. Afinal, dado o cenário de sucessivos escândalos de corrupção de sua base, índice de rejeição nunca visto antes, e a oposição mais ferrenha, desde, pelo menos, os anos FHC, seria razoável supor que o presidente se afastaria do cargo.

Mas podemos elencar pelo menos quatro motivos que o sustentaram ali. Leia atentamente esses motivos. Eles serão suficientes, creio, para responder à questão. Só farei um comentário depois para esclarecer outras alternativas.

1) Grande capacidade de articulação política: por que Temer foi escolhido vice da Dilma, por dois mandatos, tendo uma carreira completamente inexpressiva no reduto eleitoral do PT? Por que ele foi presidente da Câmara durante boa parte do governo FHC? Por que ele era presidente nacional do MDB à época?

A resposta é a mesma: capacidade de articulação política. Que Temer tinha como ninguém. O que eles aprovaram em termos de medida foi surreal. Nenhuma outra equipe econômica jamais chegou perto. Duas propostas altamente impopulares (reforma trabalhista e PEC dos Gastos), com uma oposição extremamente acalorada, em um curtíssimo espaço de tempo, e com o próprio governo tendo índices de rejeição astronômicos. Repito: nenhum outro governo brasileiro jamais chegou perto disso. Foi com isso (e com um pouco de dinheiro, também) que ele conseguiu arquivas as duas denúncias da PGR de Janot contra ele.

2) Sem movimentação dos sucessores: se Temer caísse, quem assumia, pelo menos de imediato, seria Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Embora Maia tenha ensaiado movimentações nesse sentido, preferiu se aquietar. E isso foi crucial. Você só tira alguém do poder se sabe quem vai vir depois. Temer teve parte integrante no impeachment da Dilma: articulou muito com deputados, sinalizou que queria assumir. Você deve se lembrar daquela carta "vazada", no fim de 2015, em que Temer reclamava para Dilma que sempre tinha sido um vice decorativo. Aquilo era o sinal verde pra tudo.

Como não houve movimentação de ninguém para assumir o cargo do Temer, então não o tiraram de lá. A lógica é parecida agora. Existem 40 pedidos de impeachment contra o Bolsonaro. Rodrigo Maia deve abri-los, se quiser. Por que ele não abriu nenhum, ainda? Entre os diversos motivos, um importante tem a ver com o Mourão, vice do Bolsonaro. Mourão não fez movimentações conciliadoras, sinalizando para assumir o cargo, por ora. E isso conta muito pro Congresso.

3) economia. Num dos dias mais tensos do governo Temer, Henrique Meirelles, então ministro da fazenda, telefonou para vários agentes do mercado financeiro dizendo que independente de qual fosse o presidente, ele continuaria lá. Não era um sinal de que poderiam tirar Temer que estaria tudo bem, era um sinal de que o governo Temer continuaria apoiando o mercado. Quando você tem uma sinalização econômica favorável, isso é muito importante. E ninguém, muito menos o mercado, gosta de trocas de governo. Imagina um segundo impeachment em dois anos, ou uma renúncia, ou uma cassação de mandato? Tudo isso seria muito traumático. Traria oscilações na bolsa, no dólar, atrapalharia a condução da política econômica (vale lembrar que a equipe econômica de Temer, capitaneada por Meirelles e Goldfjan, era considerada o "dream team" da economia).

Acho que eu dei um resumo bastante justo e esclarecedor. Apenas um comentário sobre as alternativas:

c) Aécio Neves não teve o mandato cassado e não foi desfiliado do PSDB. Isso foi um fator de desgaste bastante grande do partido. Em 2018, ele se elegeu deputado federal por Minas Gerais.

d) eu não sei se são vitórias "contra a maioria do Congresso". Isso deixa implícito um certo processo de simplificação da articulação política que eu não gosto. De resto, é a alternativa mais adequada.

e) como eu dei a entender acima, Meirelles, e o núcleo do "dream team" econômico, permaneceram. Meirelles só deixou o ministério da fazenda no início de 2018 para se candidatar à Presidência da República.

Se se interessar pelo assunto, recomendo o livro "O Pior Emprego do Mundo". São conversas com 14 ex-ministros da fazenda, muito esclarecedores para entender inclusive o Brasil atual. Muito do que eu disse acima são reflexões aprofundadas neste livro.

"Dizem que não existe almoço grátis. Mas o universo é o derradeiro almoço grátis"

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Re: (ESPM-2018)Republica Nova/Atualidade

Mensagem não lida por ASPIRADEDEU »

mcarvalho escreveu: 10 Jun 2020, 11:27 Boa tarde.

A questão é do segundo semestre de 2017. O contexto é o mandato atribulado do presidente Temer, que assume após o impeachment da Dilma, com o discurso de reaver a economia após a forte crise. Há intenso debate entre os economistas sobre se ele foi bem sucedido ou não. A base eleitoral de Temer, que não tem apelo popular nenhum, é fraquíssima, e ele chega, em alguns momentos, a menos de 5% da aprovação popular. O ano de 2017 é particularmente difícil. Em maio, um mês em que todos os entusiastas do mercado financeiro bem se lembram, ocorre o Joelsey Day, que mudaria pra sempre o governo. É de lá que vem aquela famosa frase do Temer, "tem que manter isso daí, viu?". Áudios divulgados pela justiça entre Joelsey, da JBS, condenado pela Odebrecht, e Temer.

É sempre interessante tentar entender o que o sustenta depois disso. Afinal, dado o cenário de sucessivos escândalos de corrupção de sua base, índice de rejeição nunca visto antes, e a oposição mais ferrenha, desde, pelo menos, os anos FHC, seria razoável supor que o presidente se afastaria do cargo.

Mas podemos elencar pelo menos quatro motivos que o sustentaram ali. Leia atentamente esses motivos. Eles serão suficientes, creio, para responder à questão. Só farei um comentário depois para esclarecer outras alternativas.

1) Grande capacidade de articulação política: por que Temer foi escolhido vice da Dilma, por dois mandatos, tendo uma carreira completamente inexpressiva no reduto eleitoral do PT? Por que ele foi presidente da Câmara durante boa parte do governo FHC? Por que ele era presidente nacional do MDB à época?

A resposta é a mesma: capacidade de articulação política. Que Temer tinha como ninguém. O que eles aprovaram em termos de medida foi surreal. Nenhuma outra equipe econômica jamais chegou perto. Duas propostas altamente impopulares (reforma trabalhista e PEC dos Gastos), com uma oposição extremamente acalorada, em um curtíssimo espaço de tempo, e com o próprio governo tendo índices de rejeição astronômicos. Repito: nenhum outro governo brasileiro jamais chegou perto disso. Foi com isso (e com um pouco de dinheiro, também) que ele conseguiu arquivas as duas denúncias da PGR de Janot contra ele.

2) Sem movimentação dos sucessores: se Temer caísse, quem assumia, pelo menos de imediato, seria Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Embora Maia tenha ensaiado movimentações nesse sentido, preferiu se aquietar. E isso foi crucial. Você só tira alguém do poder se sabe quem vai vir depois. Temer teve parte integrante no impeachment da Dilma: articulou muito com deputados, sinalizou que queria assumir. Você deve se lembrar daquela carta "vazada", no fim de 2015, em que Temer reclamava para Dilma que sempre tinha sido um vice decorativo. Aquilo era o sinal verde pra tudo.

Como não houve movimentação de ninguém para assumir o cargo do Temer, então não o tiraram de lá. A lógica é parecida agora. Existem 40 pedidos de impeachment contra o Bolsonaro. Rodrigo Maia deve abri-los, se quiser. Por que ele não abriu nenhum, ainda? Entre os diversos motivos, um importante tem a ver com o Mourão, vice do Bolsonaro. Mourão não fez movimentações conciliadoras, sinalizando para assumir o cargo, por ora. E isso conta muito pro Congresso.

3) economia. Num dos dias mais tensos do governo Temer, Henrique Meirelles, então ministro da fazenda, telefonou para vários agentes do mercado financeiro dizendo que independente de qual fosse o presidente, ele continuaria lá. Não era um sinal de que poderiam tirar Temer que estaria tudo bem, era um sinal de que o governo Temer continuaria apoiando o mercado. Quando você tem uma sinalização econômica favorável, isso é muito importante. E ninguém, muito menos o mercado, gosta de trocas de governo. Imagina um segundo impeachment em dois anos, ou uma renúncia, ou uma cassação de mandato? Tudo isso seria muito traumático. Traria oscilações na bolsa, no dólar, atrapalharia a condução da política econômica (vale lembrar que a equipe econômica de Temer, capitaneada por Meirelles e Goldfjan, era considerada o "dream team" da economia).

Acho que eu dei um resumo bastante justo e esclarecedor. Apenas um comentário sobre as alternativas:

c) Aécio Neves não teve o mandato cassado e não foi desfiliado do PSDB. Isso foi um fator de desgaste bastante grande do partido. Em 2018, ele se elegeu deputado federal por Minas Gerais.

d) eu não sei se são vitórias "contra a maioria do Congresso". Isso deixa implícito um certo processo de simplificação da articulação política que eu não gosto. De resto, é a alternativa mais adequada.

e) como eu dei a entender acima, Meirelles, e o núcleo do "dream team" econômico, permaneceram. Meirelles só deixou o ministério da fazenda no início de 2018 para se candidatar à Presidência da República.

Se se interessar pelo assunto, recomendo o livro "O Pior Emprego do Mundo". São conversas com 14 ex-ministros da fazenda, muito esclarecedores para entender inclusive o Brasil atual. Muito do que eu disse acima são reflexões aprofundadas neste livro.
Perfect!!!! :)
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Re: (ESPM-2018)Republica Nova/Atualidade

Mensagem não lida por carlosaugusto »

mcarvalho, dez sua resposta! Parabéns! 👏👏
mcarvalho
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Re: (ESPM-2018)Republica Nova/Atualidade

Mensagem não lida por mcarvalho »

Valeu!! Deu pra ver que eu gosto de falar do assunto hahaha

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