Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e difícilmente
se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
MELO NETO, João Cabral de. O artista inconfessável. SECCHIN, Antônio Carlos (Org). João Cabral de Mello Neto (seleções). São Paulo: Global Editora. Disponível em:
<http://culturanavegante.blogspot.com.br ... -cabral-de. html.>. Acesso em: 29 ago. 2015.
Os versos de João Cabral de Melo Neto revelam um eu poético
a)
angustiado, diante da constatação de que a poesia não é necessária nem útil para qualquer leitor, até mesmo para ele, na condição de artista.
b)
pessimista, refletindo sobre o seu verdadeiro desejo de comunicar algo que ele mesmo considera inútil para um leitor ávido por informações importantes.
c)
paradoxal, ao abordar, metalinguisticamente, sua incapacidade de comunicar algo, considerado inútil, embora acabe expressando suas convicções sobre o discurso poético, que é difícil para um leitor que não existe ou que não é receptivo à sua arte.
d)
centrado no código linguístico, na medida em que analisa a sua própria produção artística e a sua incapacidade de se fazer entender diante de um interlocutor presente e sensível a novas formas de expressão.
e)
incapaz de confessar seus sentimentos e de traduzir em palavras concretas e significativas o desdém que sente em relação à dificuldade que o leitor encontra para interpretar seu ofício.
Resposta
GAB:C, porfavor cada alternativa explicada!!!