Hoje o homem vive simultaneamente em todas as regiões da Terra. Dói-lhe o mundo inteiro como se fosse uma extensão sensível do seu corpo; os postes telegráficos e as ondas de rádio são as células nervosas deste imenso organismo a transmitir-lhes impressões e dores em forma de notícias. A primeira página de um jornal é o gráfico desta vida nervosa suplementar, estampando diariamente a curva de nossas tristezas universais, somando as parcelas do mundo em nosso comportamento mental e dividindo a nossa mal distraída atenção pelos quatro recantos da Terra. Nunca a unanimidade humana foi tão grande. Estamos interessados em tudo e todos. Das experiências termonucleares às pesquisas sobre a dor reumática. Das multidões esfomeadas da Índia à pobre menina brasileira que roubou um pão. Das reviravoltas políticas da África às usinas de alumínio do Canadá. Por isso mesmo, mereço este dia de praia e de sol, fechado por algum tempo nesta felicidade deslumbrada feita de orgânico egoísmo. Hoje eu não sofreria nem por mim mesmo. Nosso destino é morrer. Mas é também nascer. O resto é aflição de espírito.
(Paulo Mendes Campos. Unanimidade.)
O sentimento que mais se identifica com o “tom” manifestado pelo narrador, na maior parte do texto, é o de
A desespero.
B indiferença.
C alegria.
D amargura.
E insegurança.
Alguém, por gentileza???