Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía*.
Luís Vaz de Camões
*Soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume.
Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões:
A
O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte.
B
Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas.
C
Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no postulado da imutabilidade.
D
Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se
operam no mundo, porque constata que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.
E
As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão
Resposta
D
Por que esta interpretação está errada?