LiteraturaAugusto dos Anjos Tópico resolvido

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joãofw
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Abr 2020 29 07:54

Augusto dos Anjos

Mensagem não lida por joãofw »

TEXTO I
O Morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede...”

Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite, ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994.



TEXTO II

O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do horroroso, dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento analítico, até mesmo certa frieza, certa impessoalidade científica.

CUNHA, F.Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro: Cátedra, 1988 (adaptado).


Em consonância com os comentários do texto II acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema O morcego apresenta-se, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de

a.
reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia.

b.
expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro.

c.
representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial.

d.
abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano.

e.
conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na estrutura lírica da poesia.
Resposta

d
Sinceramente, não estou conseguindo interpretar nem mesmo o gabarito. Por favor, me ajudem nessa interpretação.




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carlosaugusto
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Abr 2020 29 09:57

Re: Augusto dos Anjos

Mensagem não lida por carlosaugusto »

joãofw, e aí, cara! Bom dia,

vamos lá, vou comentar as alternativas segundo a interpretação que tive, qualquer coisa você manda sua dúvida que a gente volta a comentar :D

a) reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia.
Falso. Augusto dos Anjos tem o objetivo de retratar as angústias humanas vivenciadas, logo, não são fatos banais, mas sim fatos que incomodam, tirando a paz e o sono do indivíduo.

b) expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro.
Falso. É bastante exagerado falar que o autor utilizou de representações macabras por apenas usar um morcego para estampar a angústia, vamos concordar? Por mais que o texto II remeta a esse pensamento, ao meu ver, essa alternativa passa longe de ser a certa.

c) representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial.
Falso. Pelo contrário, a todo momento no poema o autor remete a dilemas sobre a existência e pensamentos que incomodam o indivíduo.

d) abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano.
Verdadeiro. Augusto do Anjos utiliza de um "morcego" para ilustrar fatos e dilemas que fazem o indivíduo "perder o sono" em seu cotidiano, é só notarmos esse verso principalmente:
joãofw escreveu:
Qua 29 Abr, 2020 07:54
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
e) conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na estrutura lírica da poesia.
Falso. O mesmo problema da alternativa B, o objetivo do autor não é criar uma história de terror e sim tratar dos dilemas humanos.

Espero ter ajudado, forte abraço!!




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joãofw
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Re: Augusto dos Anjos

Mensagem não lida por joãofw »

Meu Deus, a melhor interpretação que eu já vi. Sinceramente, nem meu professor faz isso. Isso me ajuda demais, você é muito inteligente.
Carlos, agora eu entendi o sentido do dilema humano. Agora não entendi o porquê de ser um ponto de vista distanciado do cotidiano.



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carlosaugusto
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Re: Augusto dos Anjos

Mensagem não lida por carlosaugusto »

Valeu, joãofw, :P:P

o sentido de distanciado do cotidiano é pelo motivo de ter usado uma comparação que não é comum (morcego/tormentos da mente), porém mesmo com esse estranhamento, ele consegue ser crítico. Observa pelo texto II, que a comparação foi tão fora do normal que o autor diz:
O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do horroroso, [...]



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Re: Augusto dos Anjos

Mensagem não lida por joãofw »

Magnífico, agora fechou! Muito obrigado Carlos !!!



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carlosaugusto
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Re: Augusto dos Anjos

Mensagem não lida por carlosaugusto »

Disponha, joãofw!! :D




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