Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente, uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.
Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fo de água que escorria da altura de uns cinco palmos.
O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; viase-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos. As portas das latrinas não descansavam […]
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Martins, 1968. p. 43.
Texto II
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio de um passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
HOLLANDA, Chico Buarque de. “Construção” . Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br>. Acesso em: 21 ago. 2010 (fragmento).
03. Realismo e Naturalismo: O texto naturalista de Aluísio Azevedo e o poema-canção de Chico Buarque fazem um retrato da vida proletária. Ambos apresentam como característica comum:
A) a visão determinista.
B) a ênfase no mundo interior das personagens.
C) a linguagem objetiva e descritiva.
D) a desumanização das personagens.
E) a evasão.
Resposta
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