Parceria de uma produtora inglesa e da O2 Filmes,
“Lixo Extraordinário” visava registrar a obra do artista
plástico Vik Muniz, o brasileiro mais badalado no
universo das galerias e leilões mundo afora.
Por achar filmes de artistas “chatos”, Muniz usou
seu espaço na frente das câmeras para documentar um
novo “projeto social”. Em 1996, ele havia ido ao Caribe
fotografar crianças que trabalhavam em lavouras de
cana-de-açúcar e, de volta a seu estúdio, recriou as
imagens apenas com, veja só, açúcar. O trabalho deu
origem à série “Sugar Children” e foi um sucesso. A
ideia, então, era repetir o experimento, agora com
pessoas que viviam literalmente no lixo, esquecidas
pelo mundo, e reverter o dinheiro para as comunidades
locais.
O Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, em
Duque de Caixas, é o maior aterro sanitário do mundo,
destino de 70% do lixo do Rio de Janeiro e 100% de
quatro outras cidades. Tudo ao redor gira em torno do
negócio, de galpões para recolher material reciclável a
uma favela onde vivem boa parte dos 3 mil catadores
que trabalham ali. Lixo, aliás, é uma palavra proibida: se
aprende logo que o correto é dizer “resíduos sólidos”, já
que algo que gera dinheiro não pode ser chamado de
lixo, por ter utilidade a alguém e também ajudar a
preservar o meio ambiente.
Se engana quem acha que o filme é só sobre os
catadores. Acima de tudo, é sobre o artista. Claro que
as histórias humanas de luta e superação comovem,
mas “Lixo Extraordinário”, desde o início, se propõe a
ser um veículo para Muniz, mesmo que com cara de
cinema social. Esse conflito fica evidente em um breve
momento, no qual o artista, ao afirmar estar se
desapegando de bens materiais, reflete até que ponto
seu gesto de generosidade não é uma faca de dois
gumes, uma vez que ele também se beneficia do
projeto. Constrói-se aí uma sinuosa figura de herói.
Enquanto documentário, o filme é tradicional,
correto, quase um vídeo institucional. A impressão de
ensaio e roteiro é patente. Mesmo assim, “Lixo
Extraordinário” tem sua importância como documento
dessa etapa da carreira de Muniz e também do aterro,
que será fechado em 2012. Sem deslumbramento, pode
ser um modo de conhecer melhor essa realidade
paralela.
Marco Tomazzoni, http://ultimosegundo.ig.com.br,
22/07/2010. Adaptado.
Considere as seguintes afirmações sobre aspectos
sintáticos do texto:
I. Devido à estrutura do sujeito da frase “onde vivem
boa parte dos 3 mil catadores” (L. 21), o verbo
poderia ter sido usado no singular.
II. Na frase “‘Lixo Extraordinário’ visava registrar a obra
do artista plástico...” (L. 2 e 3), estaria correto usar a
preposição “a” depois de “visava”; já no trecho “se
propõe a ser um veículo para Muniz” (L. 30 e 31), a
mesma preposição poderia ter sido eliminada.
III. Apesar de sua extensão, o primeiro parágrafo é
constituído apenas de um período simples.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e II
Resposta
E